Vestido para Madrinha
Maria Inês tinha ficado muito
intrigada com o convite para ser madrinha de casamento de Isabella, as duas
eram amigas desde a infância, mas em algumas ocasiões ela achava Isabella sua
melhor amiga, e em outras, achava que Isabella estava sempre querendo competir
com ela, ou seja, a típica amizade entre mulheres.
Chegou até a pensar que Isabella
a convidou para madrinha só porque sabia que ela estava acima do peso, gorda,
fora de forma. Tinha acabado de voltar de
uma viagem gastronômica da Itália, onde tinha passado um mês com seu noivo que
estava lá a trabalho, e sabia que estava uns bons quilinhos extras.
Sua outra amiga a Angelina, tinha
sido convidada também para o casamento, então lá foram as duas olhar lojas para
escolherem os vestidos.
Maria Inês se encantou logo com
um vestido azul violeta, de rendas, costas de fora, tafetá, lindo, um arraso!
Pediu pra vendedora, que analisou Maria Inês com olhar de raio-x e decretou:
- Só tenho tamanho pequeno! Acho
que vai ficar um pouco apertado pra você.
Maria Inês olhou pra vendedora
com olhar fulminante e nem precisou dizer nada, a pobre da atendente saiu
correndo e foi buscar o vestido.
- Vem Angelina, fecha aqui pra
mim! E Maria Inês encolheu a barriga, segurou o ar, ficou roxa, mas era
impossível fechar. Angelina querendo animá-la disse:
- Inês, este tá muito apertado
pra você, tem tantos modelos bonitos! Que tal este vermelho, ou o preto, ou
este rosa?
Maria Inês nem olhava os outros
modelos direito, estava apaixonada pelo azul violeta. Mesmo assim resolveu experimentá-los,
com o preto achou que se parecia uma Madre Querubina, o vermelho com uma toalha
de mesa de cantina, o verde uma alface gigante, o rosa um pufe. Ao final ela se
virou pra vendedora e disse:
- Vou levar o azul violeta!
Angelina e a vendedora se
entreolharam e perceberam que era melhor não dizer nada, Maria Inês estava
loucamente decidida por aquele vestido.
Ao saírem da loja Maria Inês
comunicou a Angelina:
- Amanhã começamos a academia,
vamos passar lá agora pra fazer a matrícula. Eu vou caber nesse vestido até o
casamento, você vai ver!
- Ta louca Inês? Eu não tenho
tempo pra malhar e nem vontade.
Maria Inês se revoltou: - Que
droga de amiga é você? Você tem que vir comigo pra dar uma força, pelo menos
até o casamento você vai sim comigo. Todos os dias às 6h da manhã passo pra te
pegar.
No primeiro dia da malhação Maria
Inês passou pra pegar uma Angelina sonolenta e desanimada.A Academia dentro do
shopping era muito bem equipada, foram apresentadas a um treinador, o Júnior que
era encarregado de lhes passar o programa de treinamento. Junior era a melhor
coisa que podia ter aparecido para Maria Inês, por causa dele, Angelina
acordava Maria Inês ao telefone na hora que o galo cantava, para não perderem a
hora. Angelina tinha se transformado na maior incentivadora, entusiasta,
apaixonada por malhação, tudo graças a Júnior, um rapagão sarado, bronzeado,
alto, sorriso perfeito e ótimo treinador.
As duas saiam da academia e iam
tomar café na lanchonete do shopping, Inês parava nas vitrines de doces e quase
que num impulso pedia a Torta Mousse de chocolate que amava, mas aí se lembrava
do vestido e da promessa de caber dentro dele, lembrava-se também de sua última
consulta com a nutricionista falando: “Isso não pode”!
Maria Inês malhava quase todos os
dias, levava barrinhas de cereais na bolsa, trocou fast food por comida
natural, aprendeu a fazer vários tipos de saladas, enchia o carrinho de
supermercado de legumes, folhas, verduras.
Ela sabia que estava perdendo
peso, suas velhas calças jeans já estavam servindo, se sentia bem mais enxuta e
leve, mas não tinha coragem de experimentar o vestido, tinha pavor que ele
poderia ainda não servir. Resolvera deixar para provar pouco antes do casamento,
e para não correr o riso de ficar sem vestido, tinha alugado um que lhe vestia
muito bem, mas não tinha nem o glamour, nem o charme, nem nada que chegasse
perto do Azul Violeta.
Finalmente no dia do casamento,
Maria Inês colocou os dois sobre a cama, estava ansiosa, apreensiva, aflita,
agitada. Pensava em todo o esforço que tinha feito para caber num simples
vestido, que loucura afinal, refletiu.
Olhando-se no espelho, abriu o zíper do vestido, passou-o sobre sua
cabeça que foi deslizando sobre seu corpo e se encaixando perfeitamente em suas
formas. Fechou o zíper com facilidade e sorriu, o sorriso que vem da alma, que
dá vontade de rir e chorar ao mesmo tempo, sorriso de orgulho e satisfação pela
missão cumprida, pela meta alcançada.
Quando estava quase pronta, seu
celular tocou, era Angelina:
- Inês, e aí? Serviu o vestido?
- Sim, ficou perfeito e ....não
conseguiu terminar a frase, foi interrompida abruptamente por Angelina.
- Você não pode usar esse
vestido, a mãe da noiva tá com um igualzinho. Estou aqui na casa de Isabella e
acabei de ver, é idêntico.
- Como assim? A vendedora me
disse que era exclusivo, que só tinha sido feito aquele tamanho P.
- Pois é, o da mãe da Isabella
deve ser extra extra G, mas é irmão gêmeo.
- Aquela vaca daquela vendedora
me paga!! Gritou Maria Inês já possessa de raiva.
Arrancou o vestido com fúria e
nem ouviu o noivo que a aguardava a horas na sala bater a porta, Paulo tinha
acabado de chegar da Itália, desde que ele havia chegado há dois dias,não
tinham ainda tido tempo de namorar, ficar a sós, ele tinha vindo especialmente
para o casamento.
Quando ele entrou Maria Inês
estava nua, aos prantos.
- Que foi meu anjo? O que
aconteceu? Então ele reparou em
Maria Inês e suas novas curvas.
- Nossa Inês! Como você tá gostosa!! Tudo isso
pra mim?
Maria Inês entre soluços se olhou
no espelho e notou que na verdade toda aquela malhação tinha lhe deixado muito
mais atraente, braços definidos, bumbum levantado, pernas torneadas, e a
alimentação saudável resultaram em pele e cabelos brilhantes. Então Maria Inês
meditou e disse:- Dane-se o vestido, não preciso mais dele agora. E agradeceu sua amiga Isabella pelo convite,
enquanto era agarrada pelo noivo, concluiu que só mesmo as melhores amigas nos
fazem bem mesmo sem querer.
Espero que gostem!
Jaqueline Beloto
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